Pequenas histórias de Daniel Eric Bergqvist

Pequenas histórias de Daniel Eric Bergqvist

Numa indústria mais que centenária como a Caima, acontecem muitas estórias, aquele género de prosa que não constitui em si uma narrativa de factos históricos ou uma interpretação económica, política, social ou cultural no espaço e no tempo que hoje designamos por História, a que atribuímos cada vez mais um valor de carácter científico.

Estes pequenos textos foram registados por quem tentou recolher documentação e que se encontram à margem daquilo que é sério, podendo revestir o carácter de anedotas ou situações caricatas, ou ainda de situações embaraçosas, de que o quotidiano se encontra recheado. Vamos neste breve apontamento referir quatro das mais antigas estórias da Caima, quanto ainda só havia uma fábrica, a Fábrica de Pasta de Papel do Carvalhal, junto ao rio Caima, afluente do Vouga, de cujo nome a Caima se apropriou. O tempo histórico é o da empresa The Caima Estate Timber & Wood Pulp, C.º (activa entre 1888-1921), cuja sede se encontrava em Londres.

A primeira estória diz respeito ao isolamento da Fábrica de Pasta no vale do Caima, num País ainda carente de mercado interno, quando Daniel Bergqvist (1873-1970) chegou a Portugal enviado por Karl Daniel Eckman (1845-1904), o inventor do fabrico da pasta pelo processo do sulfito. No registo manuscrito dos 100 anos do Caima, datado de 1988 e pertencente ao Arquivo Municipal de Albergaria-a-Velha, refere-se que Bergqvist “encontrou o seu superior, Latimer Atkinson, de mau humor devido à escassez de cigarros. Bergqvist que na altura apenas fumava cachimbo rapidamente remediou a situação, cortando o seu tabaco de cachimbo e enrolando os seus próprios cigarros em papel de mortalha, para grande gáudio de Atkinson”.

Esta versão do modo como Bergqvist resolveu começar a fumar cigarros de tabaco de cachimbo não é a única. Uma outra versão, que se encontra entre os papéis pessoais de Sophia Bergqvist, uma descendente, o protagonista desta historieta é o director William Cruickshank (1828-1892) e não Edward Latimer Atkinson (18..-1926), director que o substituiu. Esta alteração muda, curiosamente, o sentido da história, pois Cruickshank era um empresário muito mais difícil de conviver do que Latimer, por causa da sua irritabilidade, sendo que Daniel vinha a Portugal para por a funcionar melhor o processo de produção de pasta, coisa que Cruickshank parece não ter conseguido fazer nos dois primeiros anos. Todavia, se o encontro foi com este primeiro administrador-delegado, Daniel teria apenas 18 ou 19 anos de idade, o que pode ser algo improvável.

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O tempo histórico é o da empresa The Caima Estate Timber & Wood Pulp, C.º (activa entre 1888-1921), cuja sede se encontrava em Londres

Conta-se também, que numa “certa ocasião”, quando Daniel Bergqvist chegou “à estação de Estarreja a cavalo, para apanhar o comboio da manhã para o Porto”, encontrou “o chefe da estação, vestido de gala, com sobrecasaca e chapéu alto. Bergqvist felicitou o chefe da estação pela pontualidade da chegada do comboio”, facto que não era nada habitual naquele tempo. Então o chefe da estação respondeu-lhe: “Ai de mim, vossa excelência”, replicando-lhe de imediato: “É o comboio de ontem.

Uma outra situação caricata refere-se às estradas no início do século XX, que eram muito más. “O meio de transporte preferido para viagens curtas e para deslocações locais era o cavalo. Daniel Bergqvist, para poder deslocar-se melhor, investiu numa mota de corrente, com sidecar, da marca Sunbeam. Contente com a sua fiabilidade, o único problema era que a corrente deslizava em condições atmosféricas chuvosas e contava que, certa vez, depois de passar uma noite numa pensão, os ratos haviam roído a corrente da transmissão em couro.

A última é retirada dos papéis de Sophia Bergqvist e é transcrita apenas em inglês, porque no original tem mais piada do que na sua versão portuguesa. Aqui vai: “Pink Pulp. In June 1919 a consignment of pulp arrived in London a delicate shade of pink and was refused by the client. On investigation it was found that the pulp had been used as drainage and seeping port casks had done the rest.