“Estamos aqui para responder às questões e aos desafios que as fábricas nos tragam”

“Estamos aqui para responder às questões e aos desafios que as fábricas nos tragam”

Gualter Vasco, diretor responsável pela área de Transformação Digital e Gestão de Ativos da Altri, explica que esta é uma área da organização que procura soluções e ferramentas para responder aos desafios da organização nos vários domínios da sua atividade.

A “Transformação Digital” é uma expressão que entrou no quotidiano das empresas e que se refere aos processos em que se utilizam ferramentas digitais para responder a questões que na maior parte das vezes são questões tradicionais da vida das organizações: desvios de produtividade ou de desempenho, questões relacionadas com a eficácia dos procedimentos ou com a agilidade dos métodos usados. A novidade está nas ferramentas que estão hoje ao dispor das empresas e na forma como a sua utilização se encontra generalizada aos diferentes níveis das operações. Gualter Vasco, diretor de Transformação Digital da Altri, explica nesta entrevista qual é a visão do Grupo nesta matéria.

Quando surgiu a Divisão de Transformação Digital?

A Direção de Transformação Digital na Altri foi criada em 2021. Fomos analisando e identificando o potencial de progresso nesta área. Começámos com um trabalho desenvolvido com a McKinsey que, de alguma forma, lançou o projeto dentro da Altri. Foi um trabalho feito no primeiro semestre de 2021. No fim desse projeto tínhamos uma fotografia de algumas áreas da organização, uma avaliação do potencial de um conjunto de ideias, que poderiam ter resultados muito interessantes e para os quais se desenharam provas de conceito.

Quem faz parte da equipa?

Fomos pensando na equipa, tentando perceber qual a configuração que melhor se ajustava à realidade da Altri e somos hoje uma equipa com quatro pessoas. A Carla Duque, com muita experiência e trabalho desenvolvido na área da engenharia de processo, da linha de fibra à área da recuperação e energia, traz para a equipa uma base muito sólida, contribuindo para garantir que as ferramentas desenvolvidas são ajustadas às operações. O Rui Ligeiro, que vem da área dos projetos e da gestão de ativos, que ao longo da sua carreira esteve sempre muito ligado à engenharia e aos métodos, e que tem a responsabilidade de dinamizar os projetos mais relacionados com a gestão de ativos e com os temas da fiabilidade e da eficiência operacional. Finalmente, o Hugo Guimarães, um Data Scientist que está connosco desde outubro de 2021, e que é responsável pela componente de análise de dados ou de desenho das ferramentas que permitem trabalhar a informação que a atividade da empresa origina, procurando respostas para as questões que nos colocam ou os desafios que nos lançam.

Passou sensivelmente um ano desde a criação da área de
Transformação Digital. Que análise faz do trabalho desenvolvido?

Nesta fase inicial não fomos tão bem-sucedidos quanto gostaríamos. O número de projetos que nos propuseram ficou aquém das expectativas de todos. Talvez seja uma questão de perceção, uma vez que claramente a organização Altri, das fábricas às restantes áreas, não viram na transformação digital o potencial para solucionar os seus problemas. Claramente não comunicamos da melhor forma e temos trabalho a fazer aqui: temos que explicar bem o que podemos fazer e como podemos ajudar nas diferentes áreas da Altri.

É verdade que o passado recente não ajudou, as limitações impostas pelo confinamento condicionaram a disponibilidade das equipas de todas as áreas operacionais e, portanto, a disponibilidade para trabalhar estes temas se calhar não foi aquela que podia ter sido. Além disso, do nosso lado, algumas movimentações internas que forçaram alterações à estrutura da nossa equipa também quebraram o ritmo de alguns projetos.

A digitalização já aconteceu nas nossas três fábricas há muitos anos. Do ponto de vista tecnológico estamos na linha da frente.

Gualter Vasco, diretor de Transformação Digital e Gestão de Ativos da Altri

Como querem ser percecionados?

O mais natural seria a organização olhar para a equipa da transformação digital como uma ferramenta. Espero que as áreas operacionais, de A a Z, e não só as áreas industriais, olhem para nós como uma equipa que ajuda a responder às questões, que ajuda a trabalhar os desafios de cada área.

Podemos analisar os dados ou testar as hipóteses e os cenários que nos trouxerem, mas acima de tudo, têm de nos desafiar com questões. Conhecemos a realidade das fábricas e apesar de ser nossa intenção passar a estar fisicamente mais presentes, a verdade é que será mais fácil e mais normal que o pontapé de saída seja dado pelos colegas das áreas operacionais, já que são quem melhor consegue identificar as necessidades e as prioridades.

A equipa da Direção de Transformação Digital na Altri é constituída por Rui Ligeiro, que é Especialista na Gestão de Ativos e Eficiência Operacional; Gualter Vasco, é o diretor responsável pela área de Transformação Digital e Gestão de Ativos da Altri; Carla Duque é Process Translator e Hugo Guimarães é o Data Scientist da equipa.

Como entende a transformação digital na Altri?

Na verdade, a utilização de ferramentas digitais não é novidade no universo Altri; há muito que usamos este tipo de ferramentas para suportar os níveis de eficiência a que levamos as nossas operações. Na maior parte das vezes este tema era trabalhado ao nível das fábricas, frequentemente com iniciativas localizadas e circunscritas à área que tomava a iniciativa.

A criação de uma equipa dedicada a esta área vai procurar responder à transversalidade que a Altri hoje tem. Por exemplo, no que toca às fábricas já não somos três unidades, cada uma com a sua realidade e os seus problemas: apesar de cada uma manter a sua identidade, a verdade é que é cada vez maior o alinhamento e por isso será normal e vantajoso que haja uma abordagem concertada dos desafios e da procura das soluções. E isto aplica-se também às outras áreas operacionais, onde a transversalidade é ainda mais marcada.

Mas, em termos concretos, como se aplica esta realidade à Altri?

A abordagem depende da natureza do projeto. Se o objetivo for, por exemplo, a desmaterialização ou a digitalização de um processo, então o trabalho é essencialmente ao nível das aplicações informáticas. Se estivermos a tratar de projetos que envolvam os equipamentos industriais, há um conjunto de pressupostos que é preciso garantir previamente. Nada pode acontecer sem a sensorização dos equipamentos; esta é a camada tecnológica elementar sobre a qual tudo o resto será construído. Depois é necessário garantir que a informação recolhida pelos sensores é tratada e armazenada. Finalmente, é necessário construir os modelos que nos vão responder às questões formuladas ou nos vão permitir testar os cenários de operação em análise.

Vamos falar de num exemplo concreto, por exemplo um modelo para acompanhar a condição de uma máquina, um motor. Um parâmetro que normalmente é acompanhado é sua vibração. Na abordagem convencional, que ainda hoje é maioritariamente seguida, a vibração é medida por um técnico especializado, que se desloca até ao local com um equipamento, faz a medição, regista dados numa folha, vai para oficina, carrega essa informação no sistema de gestão da manutenção e, mais tarde, alguém vai analisar esses valores e decidir se há um problema potencial. Agora é possível ter os sensores de vibração ligados aos sistemas, recolher os dados permanentemente e, no limite, acompanhar em tempo real a sua evolução, a sua tendência. É possível gerar alarmes quando se atinge ou se ultrapassa um determinado valor.

Na prática, permite fazer manutenção preditiva?

Exato. As ferramentas que temos à nossa disposição permitem-nos acompanhar a tendência, e, mais do que analisar o histórico, podemos desenvolver um modelo da máquina que no permite “adivinhar” quando esta vai falhar. Ou seja, podemos fazer a manutenção preditiva do equipamento. E com esta informação podemos fazer muitas coisas: podemos decidir se planeamos uma paragem em tempo útil para evitar que a falha aconteça ou se alteramos as condições de funcionamento da máquina para “adiar” a falha. Se o modelo indica que vai acontecer uma falha daqui a duas semanas e não é conveniente parar, e não quero que a máquina falhe, será que consigo conduzir o equipamento de forma diferente, permitindo que o cenário de falha, em vez de ocorrer daqui a duas semanas, aconteça mais tarde, permitindo, então sim, a realização de uma paragem planeada?

Projeto para acesso fácil à informação

O Altri Smart Data é um projeto que nasceu para responder a uma necessidade de toda a organização: a necessidade de acesso fácil à informação relativa à atividade. O esforço exigido para aceder e lidar com a informação é muito maior do que seria razoável.

Para responder a este desafio surgiu o Altri Smart Data, que envolve a inventariação das fontes de dados e dos responsáveis pela sua validação.

É um projeto estruturante, cujo objetivo final é garantir que a informação é disponibilizada a quem, dentro da organização, precisa e deve ter acesso a ela.

Quais as áreas onde há mais trabalho feito?

Claramente nas áreas de apoio às operações industriais. Respondendo às necessidades das fábricas apostámos na criação de ferramentas que simplificam a forma como algumas tarefas são feitas, reforçando a mobilidade e dando visibilidade ao papel de cada interveniente, em cada passo do processo. Por exemplo, hoje a consignação de equipamentos é feita com uma ferramenta informática, de uma forma mais ágil, robusta e facilmente rastreável. Outro exemplo é a gestão dos andaimes nas fábricas que também passou a ser feita em ambiente digital, desde o pedido até à sua desmontagem, mais uma vez, simplificando o processo e melhorando as ferramentas que as nossas equipas têm para assegurar as necessidades das operações e para fazer a gestão dos contratos com os prestadores de serviço. Temos um projeto de maior dimensão em curso, com a IBM, para a criação de ferramentas para a gestão das paragens e das grandes operações de manutenção.

É na área da gestão de ativos que mais trabalho tem sido feito e onde há mais projetos em pipeline; temos cerca de duas dezenas de ideias para esta área, principalmente para manutenção preditiva e otimização das operações. Mas também temos trabalho feito noutras áreas, desde um modelo para apoio na decisão na utilização de químicos em função dos consumos e dos seus preços de mercado, até uma ferramenta que desenvolvemos a pedido da área financeira, para acompanhar o perfil dos nossos clientes e antecipar questões relacionadas com encomendas e pagamentos.