Jovens fazem crescer as sementes da Altri

Jovens fazem crescer as sementes da Altri

O Centro de Reabilitação e Integração Torrejano (CRIT) promove cursos profissionais para jovens com deficiência e problemas de integração social que abandonaram a escola. No âmbito da parceria com a Altri, muitos desses formandos contribuem para os projetos de reflorestação da indústria.

Apanham as sementes, colocam-nas na terra, germinam-nas e veem crescer as árvores. Os alunos do curso de operador de jardinagem do Centro de Reabilitação e Integração Torrejano (CRIT) – vocacionado para integrar no mercado de trabalho jovens com deficiências – contribuem, desta forma, para os projetos de reflorestação da Altri, Grupo Europeu líder na produção sustentável de fibras celulósicas.

A parceria entre o CRIT e a Altri começou a dar frutos há oito anos, primeiro com o curso de operador de jardinagem, tendo sido, entretanto, alargada ao curso de operador de acabamentos de madeira e imobiliário. “A relação com a Altri começou em 2014, com a manutenção dos jardins das instalações do grupo em Constância, e depois foi crescendo com alguns produtos que fazemos e que integraram cabazes e outras ofertas que a Altri promove para os seus parceiros como chás,  compotas… depois passámos para a recolha de sementes e a germinação das plantas. Mais recentemente, a parceria alargou-se a outro curso, o de operador de acabamentos de madeira e imobiliário, onde conseguimos dar resposta ao desafio que a Altri nos colocou de produzir caixas ninho de pássaro com o logotipo da empresa para ser colocado nas áreas florestais para promoção da biodiversidade”, explicou Liliana Felício, Assistente Social e Coordenadora do Setor de Formação e Emprego do CRIT.

  • Fábio, Iuri e Fábio, recolhem sementes de arbustos autóctones para germinarem e enviarem para os Viveiros do Furadouro.
    Fábio, Iuri e Fábio, recolhem sementes de arbustos autóctones para germinarem e enviarem para os Viveiros do Furadouro.
  • Projeto ALTRI / CRIT envolvendo turmas de agronomia da instituição.
    Projeto ALTRI / CRIT envolvendo turmas de agronomia da instituição.
  • Projeto ALTRI / CRIT envolvendo turmas de agronomia da instituição.
    Projeto ALTRI / CRIT envolvendo turmas de agronomia da instituição.


    Associação às empresas

    Essa ligação do centro de formação para pessoas com deficiência ao mercado de trabalho tem sido uma constante desde a criação do CRIT, em 1977. “O CRIT sempre procurou associar-se às empresas no âmbito da formação profissional. Pretendemos que os cursos sejam práticos e que estejamos a trabalhar com um produto que tenha aceitação na comunidade. A lógica foi envolver as empresas e dar a conhecer o potencial do trabalho desenvolvido por pessoas com deficiência”, acrescentou Liliana Felício.

    Liliana Felício, assistente social e coordenadora do setor da formação e emprego do CRIT

    Liliana Felício, assistente social e coordenadora do setor da formação e emprego do CRIT

    Uma das entidades envolvidas foi a Altri. “A engenheira florestal Sílvia Soares veio iniciar o nosso curso de operador de jardinagem e perspetivou podermos contribuir com o nosso trabalho para a missão da Altri. Ou seja, produzir alguns produtos que pudessem ser aproveitados nas dinâmicas que a Altri desenvolve, seja a nível do artesanato e produtos biológicos ou de apanhar sementes e fazer germinar árvores autóctones para projetos de reflorestação.”

    Conseguiu-se assim o melhor de dois mundos ao trazer a comunidade para dentro do CRIT e vice-versa.

    “Da germinação à fecundação, explica-se a fazer”

    A engenheira Sílvia Soares, Formadora dos Cursos de Operador Agrícola e Operador de Jardinagem no CRIT, garante que ambos “funcionam muito em parceria um com o outro”. “Comigo nunca estão em sala. Tudo o que aprendem é a fazer, como funciona a germinação, a fecundação, entre outras coisas. Não há testes teóricos e é tudo avaliado na prática, o que interessa é conseguirem fazer bem para se integrarem no mercado de trabalho”, afirma Sílvia Soares. “Em média são seis alunos por curso com a finalidade de lhes podermos dar apoio a 100%. Temos boa empregabilidade. Para além dos cursos de formação temos um departamento que faz o apoio à colocação dos alunos.

    Fazem o curso, nós tratamos do estágio e depois temos duas técnicas que os tentam integrar logo a seguir no mercado de trabalho, negoceiam com as empresas antes de eles acabarem o estágio profissional. Por norma funciona bem”. Sílvia Soares refere que a parceria com a Altri começou com a execução de um jardim nas instalações do grupo em Constância. “Começamos por fazer recolha de sementes de Carvalhos, bolotas, a fazer aqui a sua germinação e depois alargámos a outras espécies.

    Agora só fazemos recolha de bolotas e não a germinação. Este ano fizemos recolha de freixo e estamos a fazer recolha e germinação de arbustos autóctones com a Altri”.

    Sílvia Soares, formadora dos cursos do operador agrícola e operador de jardinagem no CRIT

    Sílvia Soares, formadora dos cursos do operador agrícola e operador de jardinagem no CRIT

    Uma missão de intervenção social

    Quando foi criado o CRIT?

    O Centro de Reabilitação e Integração Torrejano foi constituído em 1977 no sentido de dar resposta à população com deficiência que na altura não tinha qualquer tipo de resposta social ajustada, tanto no concelho de Torres Novas como nos concelhos limítrofes.

    Qual o objetivo do CRIT?

    O objetivo do CRIT ou a sua missão é educar, formar e integrar social e profissionalmente as pessoas com deficiência e incapacidades e outros públicos desfavorecidos.

    De que forma têm impacto na região?

    Durante muitos anos estivemos focados na intervenção exclusivamente de pessoas com deficiência, desde a infância até à idade adulta. Depois, ao longo dos anos e com todas as questões sociais que foram surgindo, e pela dimensão que o CRIT assumiu aqui no concelho de Torres Novas e nos concelhos de abrangência, acabámos também por desenvolver projetos de intervenção social ajustados mais às características do concelho.

    Intervêm em que concelhos?

    Nós intervimos mais nos concelhos de Torres Novas, Alcanena, Entroncamento, Golegã, Barquinha e mais residualmente noutros da região porque estamos bem localizados a nível de rede de transportes.

    “Durante muitos anos estivemos focados na intervenção exclusivamente de pessoas com deficiência, desde a infância até à idade adulta. Depois acabámos também por desenvolver projetos de intervenção social ajustados mais às características do concelho.”

    Projeto ALTRI / CRIT envolvendo turmas de agronomia da instituição.

    Projeto ALTRI / CRIT envolvendo turmas de agronomia da instituição.

    Quando começaram com a formação profissional?

    A formação profissional surgiu em 1988 ao abrigo de iniciativas de financiamento que foram surgindo. Nós começamos pequeninos e atualmente já temos 115 trabalhadores. Acabámos por ir abraçando todos os projetos que pretendiam aumentar a nossa capacidade de intervenção. A formação profissional começou também com algumas áreas que agora já foram extintas, como o tricô, a serralharia, a informática, a encadernação…

    Que novas áreas de formação surgiram?

    Ao longo dos anos o CRIT tem-se vindo a modernizar e ajustar às necessidades do mercado. Atualmente temos os cursos de operador agrícola; operador de jardinagem; operador de armazenagem; assistente familiar e apoio à comunidade; cozinheiro; operador de acabamentos de madeira e imobiliário e operador de curtumes.

    Operador de curtumes é resposta a um mercado local?

    Neste caso, é um curso mais adaptado à nossa realidade do que outros porque estamos situados junto ao concelho de Alcanena, que é a capital da pele a nível nacional, e temos este projeto de formação em posto de trabalho, é o único que decorre exclusivamente da empresa que pretende dar resposta nesse mercado e é muito específico. Tem gerado muito emprego e há muita necessidade.

    Quantas pessoas estão em formação no CRIT?

    Em fevereiro/março tivemos cerca de 100 formandos sendo que 40 estão a terminar ou terminaram os seus cursos. Desde meados do ano passado temos 62, mas ainda vamos admitir mais alunos. Em média temos cerca de 90 alunos por ciclo formativo.