Liderança feminina na primeira pessoa

Liderança feminina na primeira pessoa

Paula Pimentel, diretora-geral da Beiersdorf Portugal, e Administradora Não Executiva da Altri, partilha a sua visão pessoal e profissional sobre o tema da liderança no feminino e algumas das boas práticas da multinacional que lidera na igualdade de género.

Para trazer a visão de uma empresa ligada por inerência ao universo feminino, falamos com a diretora-geral da Beiersdorf Portugal, Paula Pimentel. O nome desta multinacional alemã especializada no cuidado da pele pode ser desconhecido para muitos, mas está presente nos quatro cantos do mundo, com marcas como a Nivea, Nivea Men, Eucerin e a Hansaplast.

Liderança no feminino?

É um tema interessante sem dúvida. Sabemos que todas as profissionais enfrentam um conjunto de desafios únicos: saber como atingir equilíbrio entre vida profissional e pessoal, perceber como dar uma opinião segura e credível, sobretudo em contextos empresariais mais masculinos. As mulheres devem fazer um esforço para entender porque é que há empresas em que a cultura organizacional não promove o tratamento equitativo. Entender, primeiro, e avaliar se é algo resolúvel, ultrapassável; por vezes há empresas que precisam mesmo de uma ajuda nesta área. À medida que as mulheres avançam no seu desenvolvimento de carreira, o desafio torna-se ainda maior, pois há um conjunto de pares cada vez mais pequeno e crítico.

Quais são as principais características de uma liderança feminina?

Vários estudos indicam que as mulheres têm uma liderança mais democrática e liberal do que os homens – as mulheres envolvem mais os seus colaboradores – e também a forma como comunicam, como se relacionam e captam tudo à sua volta. Geralmente são mais empáticas, sensíveis ao detalhe, enquanto os elementos do sexo masculino geralmente têm uma visão mais ampla, talvez mais rigorosa e controlada das situações.

Como classifica a importância das mulheres no universo da gestão e dos negócios?

Sabemos que homens e mulheres lideram os seus projetos de forma diferente, mas o importante é conseguirem levar as suas equipas a atingir os objetivos delineados. Sabemos que as mulheres trazem uma visão diferente e complementar às organizações e que as empresas só têm a ganhar com esta visão mais completa. No entanto, não nos podemos esquecer que um grande líder terá sempre algumas características intrínsecas à sua personalidade, independentemente de ser homem ou mulher, tais como a capacidade de organização, a inteligência, a assertividade, a curiosidade, a criatividade e a visão a médio e longo prazo e sobretudo a capacidade de comunicar, de inspirar… Acredito que o estilo de liderança é influenciado por inúmeros fatores: a cultura em que a pessoa está integrada, a educação que teve, a sua formação académica ou as empresas onde se desenvolveu, todos estes fatores têm um papel importante para definir o tipo de liderança.

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Confesso que por vezes temos dificuldade em captar jovens gestores homens para trabalhar cremes e loções para a pele do rosto.

Que diferenças vê nas gerações mais novas face a este tema?

Creio que para as gerações mais novas é quase um não tema. Mas é interessante que quando homens e mulheres entram no mercado de trabalho (e nós em multinacionais gostamos muito de recrutar jovens licenciados e formá-los com o nosso ADN), assistimos a graus de maturidade muito diferentes. Geralmente uma mulher de 22/23 anos é bastante mais madura que um homem da mesma idade. Depois assistimos a um atrasar da maternidade, pois as pessoas querem fazer um pouco de carreira, antes de terem maiores compromissos financeiros. E a maternidade pode mudar muito a prestação da mulher, que depende muito de conseguir ter apoio familiar ou não. As empresas devem mesmo apoiar esta fase das colaboradoras. É um momento de grande realização pessoal, mas também de grande pressão para as mulheres. Felizmente assiste-se que esta fase da vida é cada vez mais partilhada por homens e mulheres.

Se queremos ter uma empresa equilibrada no género, se queremos ter uma sociedade equilibrada, deveremos analisar o apoio da empresa nesta fase da vida. Se a experiência da maternidade é vivida com equilíbrio e com apoio familiar/logístico de retaguarda, o retomar da carreira é geralmente feito com grande dinamismo e vontade e as características femininas vão sendo evidenciadas no desenvolvimento da carreira e da liderança.

Fazendo parte de mundos tão diferentes como a Beiersdorf – marcas líderes em cuidados de pele – e a Altri – indústria de fibras celulósicas/energia –, qual é a sua perceção da evolução da igualdade de género em cada um deles?

A Beiersdorf sendo uma multinacional líder em produtos de cosmética e cuidado da pele e sendo uma empresa eminentemente comercial orientada para o mercado, recruta sobretudo jovens licenciados em Gestão ou Engenharia, mas pelos produtos que comercializa é muito mais apelativa para elementos do sexo feminino. Confesso que por vezes temos dificuldade em captar jovens gestores homens para trabalhar cremes e loções para a pele do rosto. Preferem trabalhar em algo com que se identifiquem mais, por exemplo ir trabalhar para a banca de investimento, etc. Quando entram para a empresa acabam por adorar e perceber que não é uma ciência /indústria exclusiva de mulheres.

Em relação à Altri, acredito que o tema da igualdade de género esteja a ser tratado com a importância que merece e tenho visto que existe uma vontade real de desenvolver as oportunidades de uma política de igualdade de género, de avaliar os programas que a empresa poderá desenvolver de apoio à natalidade, aos colaboradores e às famílias com filhos pequenos.

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Sugiro a quem tem irmãs ou filhas que trate as colegas ou chefias como gostaria que as mulheres da sua família fossem tratadas/consideradas nos seus locais de trabalho.

Relativamente a este tema, qual é a política da Beiersdorf que mais a orgulha?

No caso da Beiersdorf, como somos uma empresa com menos colaboradores (as fábricas existem apenas em sete locais do globo), quando algum colaborador/colaboradora vai ser pai ou mãe é com autêntica alegria que essa notícia é recebida na empresa ou pela chefia/diretor respetivo. Quando se trata de uma colaboradora iniciamos com alguma antecedência o recrutamento de substituição para haver passagens de pasta atempadas e o processo se desenvolver sem stresses. É importante sobretudo a colaboradora sentir que tem tempo para a sua maternidade. O regresso ao escritório também é feito duma forma muito especial. Estamos agora a preparar uma atividade de visita dos filhos ao local de trabalho dos pais, projeto que tem sido atrasado devido à pandemia.

Existe também um projeto em toda a Europa do Sul sobre a igualdade de género, em que se abordam as diferentes fases do crescimento da mulher e o apoio que a empresa pode criar; como criança, o primeiro emprego, a maternidade, a fase dos filhos pequenos e o aproximar da senioridade.

Se tivesse de deixar uma mensagem ao público masculino sobre a igualdade de género, o que gostaria de lhes dizer?

É um privilégio ter colaboradoras, colegas, chefias ou líderes femininas, seguramente vão descobrir pessoas resilientes, criativas e empáticas. Sugiro também a quem tem irmãs ou filhas que trate as colegas ou chefias como gostaria que as mulheres da sua família fossem tratadas/consideradas nos seus locais de trabalho. Acreditem que desta forma a Altri terá mais cor, mais energia positiva e os resultados serão melhores!

Principais quatro características das mulheres líderes

1. Resiliência
As mulheres são destemidas e focadas quando têm de contornar problemas e fazer com que as suas vozes sejam ouvidas. Hoje em dia valorizam-se bastante os líderes perseverantes, que tentam vencer os desafios diante de um cenário tão incerto como o que vivemos.

2. Empatia
As líderes femininas tendem a pôr-se mais facilmente no lugar do outro e a dar mais importância ao lado humano de cada um. Desta forma contribuem muito para o ambiente da empresa e têm uma postura motivacional forte sendo generosas ao estimular, motivar e inspirar aqueles que estão à sua volta.

3. Horizontalidade
As mulheres apostam mais numa gestão de proximidade, geralmente não se põem num pedestal e encorajam a participação de todos, unindo os colaboradores e formando equipas mais coesas e eficientes.

4. Flexibilidade
Outra qualidade feminina é ser multitasking. As mulheres conseguem geralmente gerir as suas responsabilidades e, simultaneamente, observar as necessidades dos colaboradores da equipa. Além disso talvez tenham mais capacidade de se adaptar à mudança e de captar os seus sinais.