Máquinas híbridas na floresta? Sim!

Máquinas híbridas na floresta? Sim!

Estes equipamentos são o início da redução da pegada ambiental em trabalhos florestais.

Por Pedro Silva
Gestor de Aprovisionamentos e Desenvolvimento Florestal na Altri Florestal


R espondendo às pressões ambientais crescentes do mercado global, bem como de várias entidades governamentais e organizações mundiais, os fabricantes de maquinaria industrial começaram neste século, e em especial na última década, o seu caminho de mudança para a construção e comercialização de equipamentos que emitam significativamente menos gases nocivos (monóxido de carbono, hidrocarbonetos, óxidos de nitrogénio e partículas finas).

Este objetivo foi já conseguido através da construção de motores diesel mais desenvolvidos e eficientes (stage IV final e V), equipados com filtros de retenção de partículas e acrescidos de conversores catalíticos (AdBlue).

Máquina no terreno a operar.

Máquina no terreno a operar.

Todavia, o caminho teve (e terá) de “ir mais longe”, e, por essa razão, atualmente começa a ser habitual observar equipamentos industriais elétricos, com emissão zero, a trabalhar em ambiente fabril, ou em parques logísticos e de armazenagem. Entre estes equipamentos encontram-se máquinas de movimentação (gruas, empilhadores) e também escavadoras, usualmente chamadas de giratórias. Muitos destes equipamentos estão, no entanto, ligados por cabo e de forma permanente, à fonte de energia. Também a Altri, nos seus parques fabris e armazéns, já possui equipamentos elétricos a trabalhar em contínuo.

Máquina no terreno a operar.

Máquina no terreno a operar.

Contudo, o espaço florestal tem maiores limitações, e a mais fácil de identificar é a (in)acessibilidade à fonte de energia (eletricidade), o que inviabiliza o uso de equipamentos elétricos de ligação permanente, ou de baixa autonomia, como os atualmente comercializados.

Máquina no terreno a operar.

Máquina no terreno a operar.

Daqui resultou que, em 2022, tomássemos a decisão de procurar no mercado os equipamentos que melhor cumprissem um dos objetivos que a Altri definiu para a sua floresta – menor emissão dos gases nocivos resultantes da sua atividade.

Naturalmente, os equipamentos a considerar não poderiam ser sobre/subdimensionados, menos produtivos, nem menos resistentes do que as respetivas alternativas com motor a combustão. Foi com base no cumprimento destas premissas que surgiu a opção dos equipamentos híbridos providos com tecnologia hidráulica, acoplada e em complementaridade ao motor diesel.

A ideia de base que suporta a maioria deste tipo de equipamentos é que seja o sistema hidráulico a disponibilizar o boost de força necessário à execução de determinada tarefa, mantendo assim o motor diesel em regime constante. Como consequência, podem ser usados motores mais pequenos, a potência e o torque são otimizados e melhorados, mantendo-se inalterados os seus regimes de trabalho/rotações. É pela soma destas características que se assiste à diminuição dos consumos e respetivas emissões.

Pedro Silva, Gestor de Aprovisionamentos e Desenvolvimento Florestal na Altri Florestal

Pedro Silva, Gestor de Aprovisionamentos e Desenvolvimento Florestal na Altri Florestal

Após a análise e a seleção deste tipo de maquinaria, e com vista à sua aquisição, optou-se por estabelecer parcerias com os fornecedores de serviços que se disponibilizassem para realizar este investimento, garantindo-lhes em troca quantidades de trabalho anuais, durante quatro anos, facilitando assim o seu retorno.

Os primeiros equipamentos começaram a estar ao nosso serviço ainda em 2022, mas a maioria deles só esteve disponível em 2023 dadas as dificuldades e os tempos de espera elevados para a entrega das máquinas e montagem dos seus packs de segurança obrigatórios para o trabalho florestal.

Conseguiram-se, nesta primeira fase, estabelecer parcerias com sete fornecedores de serviços, totalizando nove máquinas: cinco para a atividade de exploração e quatro para a de preparação de terrenos.

A Volvo EC250E reduz em 15% as emissões de CO2

A Volvo EC250E reduz em 15% as emissões de CO2

Um aspeto fundamental da introdução destas máquinas é a obtenção dos dados relativos às suas produções, produtividades, aos seus consumos e emissões.

Uma vez que só em meados do presente ano conseguimos ter um número de máquinas estatisticamente relevante a operar nas propriedades da Altri, esta tarefa está atualmente numa fase inicial, mas em curso. Contudo, os primeiros dados obtidos, de forma casuística, dos computadores das máquinas, traduzem uma redução dos consumos (mais importante na atividade de preparação de terrenos). Naturalmente, esta comparação tem de ser feita com os equipamentos de características similares, mas equipados com motores convencionais, de combustão.

Para 2024, temos como objetivo a implementação de um sistema automático de envio e obtenção de todos os dados suprarreferidos, por telemetria.

Por último, gostaria de referir que a Altri Florestal está atenta aos desenvolvimentos de um mercado que está em forte transformação e por isso têm sido mantidos contactos diretos com os principais construtores de máquinas representados em Portugal (Volvo, Ponsse, John Deere, Caterpillar, Komatsu, Hitachi), com vista à obtenção da melhor, mais atempada e rigorosa informação disponível para o mercado consumidor. Destes contactos têm saído “novidades” que nos dizem que no final de 2024 estarão para comercialização as primeiras máquinas florestais 100% elétricas sem necessidade de conexão permanente, e com autonomia aumentada, bem como em 2026 as primeiras máquinas florestais alimentadas a hidrogénio.


A primeira ceifeira híbrida em Portugal está ao serviço da Altri

Foi na zona da Abrigada, em Alenquer, que a primeira ceifeira híbrida em Portugal, neste caso da finlandesa Logset, esteve a operar para a Altri Florestal, através do fornecedor de serviço Manuel Moreira da Rocha & Irmão. Trata-se de uma máquina avaliada em cerca de 500 mil euros que esteve a operar numa obra de aproximadamente 100 hectares da Altri Florestal. Por ser a primeira em Portugal, “o fabricante finlandês teve de parametrizar alguns dos sensores desta máquina para operar melhor com as características do terreno em Portugal”, explica José Rocha, gerente da Manuel Moreira da Rocha & Irmão, acrescentando que o objetivo da utilização desta ceifeira híbrida é “reduzir as emissões de CO2“, um requisito que a Altri Florestal está a impor aos seus parceiros e fornecedores.

José Rocha, gerente da empresa Manuel Moreira da Rocha & Irmão

José Rocha, gerente da empresa Manuel Moreira da Rocha & Irmão

Uma dezena de quilómetros mais à frente, outro operador florestal, a +VLO – Lavouras do Oeste, estava a operar com uma máquina híbrida Volvo EC250E, uma escavadora de lagartas de 26 toneladas que reduz em 15% as emissões de CO2. Um equipamento que ronda os 175 mil euros, mas que de acordo com Nuno Almeida, gerente da +VLO, “garante ao operador conforto e ergonomia, ao mesmo tempo que proporciona uma redução média de 3 litros de combustível por hora, quando comparada com outras máquinas equiparáveis em dimensão.”

Nuno Almeida, gerente da +VLO – Lavouras do Oeste

Nuno Almeida, gerente da +VLO – Lavouras do Oeste

Os camiões florestais do futuro serão a hidrogénio ou elétricos?

Pedro Silva, Gestor de Aprovisionamentos e Desenvolvimento Florestal na Altri Florestal, explica que a operação de transporte de todos os materiais lenhosos que o Grupo Altri necessita para consumo (madeira, estilha, biomassa) é uma atividade que promove centenas de fretes diários de e para as nossas fábricas. Atualmente, pode afirmar-se que o mercado construtor destas viaturas já possui modelos em testes e em fabrico (particularmente elétricos), mas no que respeita à tipologia mais adaptada aos “nossos” transportes – de cinco ou mais eixos –, ainda se encontra numa fase muito precoce de comercialização e desenvolvimento. Isto é especialmente verdade quando se trata de transporte de matérias pesadas como é o caso do material lenhoso em Portugal (até 60 ton). O peso afeta fortemente a autonomia do transporte nas atuais viaturas elétricas (muito menor distância percorrida). Já no que respeita ao hidrogénio, o facto de a sua rede de abastecimento ser quase inexistente na Europa (e no mundo) tem atrasado o desenvolvimento deste tipo de viaturas que poderão estar mais adaptadas ao transporte para maiores distâncias e com mais carga. Pela importância que tem na diminuição das emissões provenientes da nossa atividade, e em paralelo com o trabalho desenvolvido para as máquinas florestais, pretende a Altri modernizar a frota ao seu serviço, bem como introduzir no médio prazo algumas viaturas alimentadas por fontes de energia alternativas e menos poluentes.

Gruas descarregam camiões com matéria-prima depois desta ter sido pesada.

Gruas descarregam camiões com matéria-prima depois desta ter sido pesada.