O que faz a Altri na Economia Circular?

O que faz a Altri na Economia Circular?

Miguel Silva, Chief Financial Officer da Altri, enquadra o tema da economia circular na atividade da produção de fibras celulósicas, que há muito tempo valoriza os vários subprodutos do processo produtivo, e explica como a Altri continua a procurar aplicações para a maioria dos resíduos produzidos.

Economia Circular (EC) é uma expressão que cada vez mais ouvimos nas nossas vidas. Mas, afinal de contas, o que é a Economia Circular e quando surgiu? O conceito sucede à gestão dos resíduos industriais e urbanos dos anos 80. A expressão Economia Circular é atribuída a Stahel (1976) e a Pearce e Turner (1990) numa definição mais elaborada, tendo sido a Alemanha o primeiro país a legislar sobre o tema em 1994.

Primeiro apareceu o conceito dos 3R (Reduzir, Reutilizar, Reciclar) ao qual se seguiu o cradle to grave com o qual, basicamente, se começava a pensar nos resíduos gerados logo na fase de planeamento da produção, nomeadamente no sentido de evitar a utilização de materiais tóxicos. Finalmente, evoluiu-se para o cradle to cradle em que se tenta que um resíduo seja um ponto de partida para um novo produto ou forma de utilização e que, em termos genéricos, corresponde ao conceito de Economia Circular. Esta nova abordagem é diferente do tradicional modelo Retirar-Fazer-Abandonar (take-make-dispose). Ao reutilizar e reciclar o mais possível, reposicionando e vendendo produtos além da sua vida inicial, a Economia Circular é geradora de atividade económica e de criação de emprego, reduzindo em simultâneo a pressão ambiental.

O Relatório Growth within a circular economy vision for a competitive Europe conclui que a Economia Circular poderá produzir melhores resultados em termos de bem-estar, PIB e criação de emprego que a abordagem “tradicional”.

Miguel Silva, CFO da Altri

Valorizar subprodutos do processo produtivo

No setor da Pasta e Papel, e em particular no Grupo Altri, há muito tempo que se valorizam vários subprodutos do processo produtivo. O exemplo porventura mais antigo é o do licor negro, que é queimado para produzir energia posteriormente usada no processo ou vendido o excesso à rede. Outros exemplos de Economia Circular na Altri passam pela venda do lignosulfonato para a indústria da construção, a valorização das lamas de cal nos fornos da indústria do cimento ou o aproveitamento de material fino em digestor específico para o efeito (projeto precursor em termos mundiais).

A Altri tem também, em fase mais ou menos adiantada de implementação, outros projetos de Economia Circular como a valorização de Ácido Acético e Furfural na Caima ou, em parceria com a Agristarbio, a transformação em fertilizantes de lamas secundárias provenientes do tratamento de efluentes da Biotek e Caima. O Ácido Acético é uma matéria-prima para a cadeia de produção de químicos enquanto o Furfural é um químico-base para diversas utilizações. No caso da produção de fertilizantes a partir de lamas secundárias, acresce ainda que estes voltarão, em parte, a ser usados no grupo Altri, mais precisamente na fertilização da floresta gerida pela Altri Florestal.

Encontrar aplicações para os resíduos produzidos

Além dos projetos em curso, a empresa tem ainda o objetivo de encontrar aplicações para a maioria dos resíduos produzidos, tais como dregs, grits, lamas de carbonato, cinzas de forno da cal e de caldeiras termoelétricas a biomassa, areias e escórias de caldeiras termoelétricas a biomassa.

A Altri tem vários projetos de Economia Circular como a valorização de Ácido Acético e Furfural na Caima ou, em parceria com a Agristarbio, a transformação em fertilizantes de lamas secundárias provenientes do tratamento de efluentes da Biotek e Caima.


    O projeto da Altri na Galiza, a concretizar-se, será uma importante resposta para um dos setores mais poluentes do mundo: o do têxtil e vestuário. A produção de têxteis a partir de fibras celulósicas sustentáveis (com previsão de poder incorporar no futuro têxteis reciclados) será umas das principais formas de melhorar a sustentabilidade de um setor que utiliza todos os anos cerca de 65.000 milhões de toneladas de matérias-primas, das quais cerca de 80% se transformam em resíduos!

    É, assim, fácil de perceber que a Altri está totalmente comprometida com a promoção da Economia Circular, reutilizando e valorizando todos os seus subprodutos e procurando valorizar todos os seus resíduos, acrescentandolhes valor económico e ajudando na criação de um planeta mais sustentável.

    Promoção da economia circular

    A Altri está totalmente comprometida com a promoção da Economia Circular, reutilizando e valorizando todos os seus subprodutos e procurando valorizar todos os seus resíduos, acrescentando-lhes valor económico e ajudando na criação de um planeta mais sustentável.

    O potencial da Economia Circular

    Mas, em termos globais, qual é o verdadeiro potencial desta nova abordagem ambiental e económica? Em 2015 foi publicado o Relatório “Growth within a circular economy vision for a competitive Europe” e as conclusões são surpreendentes. Para além dos benefícios ambientais e sociais, o benefício económico na Europa pode chegar aos 1,8 triliões de euros até 2030.

    No relatório, conclui-se que a Economia Circular poderá produzir melhores resultados em termos de bem-estar, PIB e criação de emprego que a abordagem “tradicional”. Os exemplos de oportunidades que foram identi cadas são diversos e muito exempli cativos quanto ao seu potencial:

    • Um carro na Europa, em média, passa 92% do tempo parado;
    • 31% dos alimentos são desperdiçados ao longo da cadeia;
    • O escritório europeu é usado apenas 35 a 50% do tempo disponível.

    Com a partilha de automóveis e soluções de condução autónoma, o custo médio de utilização de viaturas/km poderá descer até 75%. Processos industriais ou modulares podem fazer baixar o custo de construção até 50% e as casas que estejam preparadas para transformar a energia solar que recebam podem reduzir o consumo energético até 90%.

    Novos modelos de negócio

    No entanto, a mudança para uma sociedade em que se passará a valorizar a extensão da vida dos produtos e equipamentos, obrigará a uma transformação profunda nos modelos de negócio.

    Por exemplo, nos equipamentos, a mera relação de venda passará muito provavelmente para um serviço em que o incentivo estará na extensão da vida útil. Já existem alguns fabricantes que oferecem mesmo um serviço de desmontagem e reciclagem. Veja-se o exemplo da ABB com a sua associada Stena Recycling em que os produtos são recondicionados e podem ser usados para fabrico de novos motores ou revendidos a outros clientes.

    Os desafios são provavelmente tantos quantas as vantagens, mas é essencial que cada um de nós, indivíduo ou empresa, faça a sua parte para vivermos num mundo onde os produtos têm ciclos de vida cada vez maiores e onde os resíduos são transformados em matérias-primas de outros produtos ou negócios, contribuindo assim para um planeta mais eficiente e sustentável.